domingo, abril 08, 2007

 

O que Bush veio buscar????


Reportagem retirada da Revista:

Caros Amigos

Não seria de estranhar o encontro entre presidentes de países que são os maiores produtores de etanol do mundo tendo como pauta uma estratégia conjunta para desenvolver e comercializar uma fonte de energia alternativa ao petróleo, especialmente quando os combustíveis fósseis escasseiam, atingem preços exorbitantes, e poluem perigosamente o planeta. A questão é: Brasil – com 16 bilhões de litros anuais – e Estados Unidos – com 17 bilhões de litros anuais – há muito não negociam em pé de igualdade. Se isso já desperta desconfiança, a preocupação aumenta quando se sabe que, do ponto de vista de preço e qualidade, o nosso etanol – de cana-de-açúcar – é superior ao deles – de milho –, e a tecnologia brasileira está à frente da americana. Para piorar, o interlocutor do lado de lá é George W. Bush, o mais agressivo cultor da hegemonia americana dos últimos tempos.
Pelo petróleo Bush invadiu o Iraque e matou, até agora, mais de 100.000 civis, além de 3.000 soldados de seu próprio Exército. O que realmente quis o presidente dos Estados Unidos nessa conversa com o presidente Lula é o que procura responder Gilberto Felisberto Vasconcellos, sociólogo e um dos primeiros a perceber a importância geopolítica e ambiental dos combustíveis vegetais para o futuro do país e do planeta.

Sem competir com o petróleo.

O etanol, como fonte de energia, chamou a atenção da PDVSA — Petroleos de Venezuela S.A. —, que pediu ao professor J. W. Bautista Vidal esclarecimentos sobre o tema. As perguntas da empresa venezuelana e as respostas do especialista foram cedidas à Caros Amigos.

1º - TRECHO

O que são realmente os biocombustíveis? Quais são suas vantagens?

São combustíveis vegetais, renováveis e limpos do ponto de vista ambiental, de natureza química, que substituem os combustíveis derivados do petróleo e podem ser obtidos a partir da energia solar por meio da fotossíntese das plantas. Pela necessidade da radiação solar, eles podem ser produzidos em grande escala nas regiões tropicais que disponham de água abundante. O Brasil tem a maior proporção de água doce do planeta.
São combustíveis vegetais:
a) o álcool etílico, obtido por fermentação dos açúcares ou amidos;
b) os óleos vegetais e a celulose, e seus inúmeros derivados.
Ademais, esses combustíveis são renováveis, pois têm origem na radiação solar; não produzem efeito-estufa devido ao equilíbrio negativo entre o CO2 retirado da atmosfera para a formação dos hidratos de carbono e lipídeos das plantas e o CO2 resultante da queima dos combustíveis vegetais derivados – etanol, óleos vegetais e celulose, e seus derivados. Esses hidratos de carbono e lipídeos são formados nas plantas por meio de uma reação química endotérmica em que a radiação solar, pela fotossíntese, fixa o CO2 e a água, combinando-os. Pela abundância de energia solar, sua produção é concentrada nos trópicos, onde os custos de sua produção são menores e decrescentes em relação aos combustíveis derivados do petróleo, de preços irremediavelmente crescentes.
No Brasil se produz etanol de cana-de-açúcar por metade do custo do álcool obtido de milho nos Estados Unidos e a um terço dos custos na Europa obtido de beterraba. Enquanto o petróleo leva 400 milhões de anos para se formar a partir da radiação eletromagnética do sol, a qual depende de tecnologias não eficazes de captação e armazenamento, o óleo de girassol, por exemplo, leva dois meses para se formar a partir da radiação solar. E, como os demais óleos vegetais, é de fácil manejo tecnológico pelos pequenos produtores rurais. Além da cana-de-açúcar e da mandioca, excelentes conversores energéticos de radiação eletromagnética em energias químicas, existem nos trópicos centenas de variedades de óleos vegetais, com destaque para o óleo de palma nos trópicos úmidos – toda a região amazônica da América do Sul, por exemplo –, de altíssima produtividade, capaz de produzir nessas regiões cerca de 8 milhões de barris de óleo diesel vegetal por dia, o equivalente à atual produção de petróleo da Arábia Saudita. No caso, renovável, sem risco de exaustão, pois depende do Sol. Esse potencial é muito maior se forem incluídas outras regiões da América do Sul, especialmente com uso de irrigação. O Sol um dia irá apagar-se, mas isso levará 11 bilhões de anos, o que garante uma razoável sustentabilidade, conceito tão falado e pouco compreendido. Transformando esses fatos da física da natureza em realidade econômica, cria-se a possibilidade de existirem civilizações sustentadas. Elas passam a plantar a energia de que necessitam tomando como base a maior fonte de energia, que é o Sol. Isso possibilitaria criar dezenas de milhões de novos postos de trabalho permanentes em regiões estratégicas, vulneráveis, hoje submetidas ao perigo da ocupação estrangeira, direta ou indireta por meios econômicos, especialmente pela compra descontrolada de terras. O modo inteligente de evitar tais ocupações estrangeiras é promover o aproveitamento dessas regiões, agora estratégicas do ponto de vista energético, com empreendimentos em mãos de nacionais – trabalhadores e produtores. Isso é considerado por estrategistas militares como o modo altaneiro de desaconselhar perigosas incursões externas, econômicas e militares, em nosso território. Com a vasta produção nacional de energia vegetal autônoma, altamente descentralizada, com custos reduzidos, criam-se as condições para um salto econômico de grande dimensão, suprindo com vantagens excepcionais o mercado mundial quando se desenha claramente o colapso do petróleo e dos combustíveis fósseis. E essa mudança da matriz energética brasileira e mundial, possível e necessária, abre a perspectiva para uma industrialização diversificada, especialmente de alimentos, produtos de construção civil, farmacêuticos e químicos em geral, com uma vasta gama de subprodutos, alguns de alto potencial, com mercado garantido. São exemplos a resinoquímica (a partir da mamona), a alcoolquímica e a bioquímica em geral. De modo indiscutível, existe uma grande vocação produtiva de uma extensa e rica região associada à produção mundial de energias renováveis, no ocaso das energias não renováveis, cujo esgotamento leva à guerra, como vem ocorrendo.

Em especial, com o outro lado de uma mesma moeda, a biomassa energética traz consigo uma grande produção de subprodutos alimentares. O pequeno produtor rural, a agricultura familiar poderá ter nesse campo econômico um novo e enorme espaço que lhe proporcionaria importantíssimo papel – desde que apoiado institucionalmente em adequado desenvolvimento tecnológico, capacitação gerencial e infra-estrutura logística e de distribuição nacional – no mercado externo, que cresce de modo acelerado em países de altíssimo consumo que já sofrem com o colapso do petróleo. A produção descentralizada e em grande escala de energias vegetais renováveis e limpas dos trópicos não vem para competir com os produtores de petróleo, mas para reduzir as pressões e conflitos criados por essa escassez e previsto colapso, e para alongar a vida das reservas de importantes países produtores sob permanente risco de ocupação militar por países hegemônicos.

2º - TRECHO

Os biocombustíveis podem realmente substituir o petróleo?

A grande abundância de energia solar dos trópicos do continente sul-americano, especialmente do Brasil e demais regiões tropicais, a excepcional disponibilidade de água, uma vasta fronteira agrícola ainda não utilizada de terras férteis e uma longa e comprovada experiência tecnológica de produção e uso dessas energias vegetais renováveis indicam tais potencialidades. Com a nova civilização da fotossíntese, a energia pode ser “plantada”, mudando a inexorável predeterminação das limitadas reservas fósseis e estabelecendo excepcionais vantagens comparativas da produção de combustíveis vegetais. Precisam, porém, ser complementadas com um novo quadro institucional de instrumentos operativos, eficientes e práticos, que envolvam adequadas infra-estruturas para assumir a nova dimensão mundial promovida pelo ocaso das energias não renováveis de origem fóssil. Essas conclusões foram apresentadas ao final de seminário promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, com participação de cerca de seiscentos especialistas e produtores, em 2005. Todos os estudos até aqui realizados, especialmente na Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e Comércio, principal responsável pela implantação do Proálcool, convergem para a mesma conclusão. O governo brasileiro está cuidando atualmente da criação de uma empresa de economia mista para responder pelos combustíveis renováveis, assim como a Petrobras cuidou com total sucesso do petróleo. A ação da Petrobras ocorre, porém, na área da mineração. O universo das energias renováveis envolve principalmente a agricultura, a bioquímica, exige bases científicas distintas e, conseqüentemente, pessoal de competências diversas, embora complementares. Produtos energéticos competitivos geram conflitos naturais que exigem adequado tratamento, para somar e fortalecer o quadro institucional nacional. Confundir seus objetivos provocará desgastes e desperdícios desnecessários, prejudicando os resultados.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é sociólogo, escritor e jornalista

Baby

domingo, abril 01, 2007

 

De Novo??? Não, agora não!!


Parece brincadeira o que está acontecendo novamente com a tráfego aéreo brasileiro. Como da outra vez, esperaram o Presidente Lula entrar no avião para uma viagem internacional, e os "controladores" fizeram a parte que lhes cabia: pararam de trabalhar.

Só que dessa vez pegaram um presidente mais calejado com esse tipo de comportamento, queria o grandão da Aeronática, prender todos os controladores, mas o presidente o "desautorizou", isso aí Presidente Lula, eles estavam esperando que a última palavra fosse deles, mas a última palavra tem que ser a do Presidente.

Sem querer, Lula quebra tabu militar

Nunca antes neste país todos os aeroportos ficaram fechados. Entre as muitas decisões equivocadas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo da crônica crise da aviação civil, uma foi acertada: a de negociar com os controladores de vôos militares que se amotinaram na sexta-feira (30/03).

As cenas de caos nos aeroportos exibidas na TV evidenciaram a falta de alternativa. Uma funcionária de uma companhia aérea levou um soco porque foi reclamar com o passageiro irritado que ele deveria pagar pela derrubada de uma divisória. O agressor levou um sopapo de outro passageiro e foi parar no chão.

Um homem de 54 anos morreu de infarto, em Curitiba, depois de passar mal no aeroporto. Pais, mães e filhos dormiram no chão. Um casal em lua-de-mel não pode embarcar para Buenos Aires. E por aí foi...

Tudo isso aconteceu com a paralisação de menos de um dia dos controladores de vôo militares. A greve durou do final da tarde de sexta à madrugada de sábado, quando foi fechado acordo entre o governo e os amotinados.

Entre preservar uma hierarquia militar que já estava mais do que quebrada e colocar fim o mais rápido possível ao caos, Lula não hesitou. Refém dos controladores aéreos devido à sua própria ineficiência nos últimos meses para sanar a crise e se precaver contra chantagens, o presidente não tinha outro caminho.

Na noite de sexta, ainda em vôo para os Estados Unidos, Lula conversou com o próprio comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Juniti Saito, quando soube que ele ordenara a prisão dos amotinados. O presidente perguntou ao brigadeiro se, uma vez presos os controladores, ele teria substitutos que pudessem normalizar o tráfego aéreo. Resposta do próprio Saito: não. Reação do presidente: então não dá para prender os controladores; o jeito é negociar. Lula achou que a radicalizarão criaria um problema ainda maior. Saito, então, concordou com ele.

E a hierarquia militar? Ora, os militares têm quebrado essa hierarquia desde a criação do Ministério da Defesa no governo FHC. Boicotaram todos os seus chefes civis.

Na gestão Lula, José Viegas foi derrubado por uma articulação dos militares. O vice-presidente da República, José Alencar, assumiu a pasta e lhe conferiu aparência de normalidade. Mas sua gestão foi um desastre. Postergou uma solução para a crise da Varig, jogando fora o trabalho de Viegas. O vozeirão e a figura simpática ajudavam a criar um clima de autoridade, mas o resultado foi zero. Não entendia nada da área. Foi tão mal que Lula decidiu tentar com Waldir Pires.

Então, aconteceu algo parecido com o ocorrido a Viegas. Pires era ridicularizado e dinamitado pelos comandantes das Forças Armadas que antecederam os atuais. Claro que ele ajudou bastante com suas trapalhadas.

Lula assistiu a tudo isso durante quatro anos. No final de 2006, decidiu trocar Pires, mas queria fazê-lo na reforma ministerial para lhe dar ar de mudança natural. Mas veio novo pico da crise, e Lula cometeu mais um erro: disse que não tiraria Pires "debaixo de crítica".

Houvesse uma alternativa concreta, faria sentido a discussão sobre quebra de hierarquia e crise militar.

Existe até um lado positivo na desautorização do comandante da Aeronáutica. Ainda que não tenha tido esse objetivo, a decisão de Lula quebrou de vez o tabu do fantasma militar numa hora simbólica: véspera do aniversário de 43 anos do golpe que instaurou a ditadura de 1964.

Obviamente, não há o menor clima para golpe militar ou crise que leve à contestação da autoridade civil. No entanto, o Brasil gosta de alimentar esse fantasma. Freqüentemente, cientistas políticos, parlamentares e jornalistas dizem que é preciso muito cuidado para não melindrar as Forças Armadas. Registram que o país teve poucos períodos de normalidade democrática etc. O recado é sempre o mesmo: não vamos bulir com quem está quieto.

Na campanha eleitoral de 2002, havia temores em áreas civis a respeito da recepção dos militares à provável eleição de Lula. O PT abriu canais para não se surpreender. Incrível, mas isso faz pouco tempo.

Agir rapidamente era mais importante do que a autoridade da cúpula da Aeronáutica, que tem lidado mal com os controladores. Na sexta, as quatro companhias americanas que voam para o Brasil simplesmente cancelaram os vôos.

O efeito disso é desastroso. Gera insegurança para o ambiente de negócios. Repercute negativamente no turismo. Uma paralisação de dias para preservar uma hierarquia militar que já não existia não era o preço certo a ser pago. Foi ruim, mas poderia ter sido pior. Lula não precisa tomar atitudes apenas para restaurar a cadeia de comando militar. Antes de tudo, precisa restaurar o respeito das Forças Armadas ao Ministério da Defesa.

Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

Baby

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